Tramas da Modernidade - Regina Galvão


    Estamos muito felizes com a publicação da matéria "Tramas da Modernidade", de Regina Galvão, na 4ª edição da Revista Habitare, que reconhece o nosso expertise e o trabalho de resgate da tapeçaria artística moderna brasileira.

    Em destaque na publicação, fotos de divulgação da galeria com obras dos artistas Genaro de Carvalho, Jorge Cravo, Norberto Nicola, Jacques Douchez, Maria Helena Andrés, Gilda Azevedo e Jean Gillon.

    TRAMAS DA MODERNIDADE

    De ateliês pioneiros na Bahia às colaborações com a arquitetura de Brasília, a tapeçaria moderna contribuiu para consolidar a arte têxtil nacional como expressão de brasilidade e inovação.

    Durante o modernismo, o design têxtil no Brasil ganhou força como linguagem artística e arquitetônica. A partir das décadas de 1920 e 1930, estampas, tecidos e tapeçarias passaram a traduzir, em formas e cores, uma estética genuinamente brasileira. Temas tropicais, tradições populares e padrões geométricos, reinterpretados das vanguardas europeias, marcaram o período, criando um repertório visual ao mesmo tempo moderno e pautado na cultura nacional.

    Muito além da função decorativa, a tapeçaria tornou-se linguagem autônoma, reforçando a conexão entre arte, design e espaço. Um dos nomes de destaque foi o de Genaro de Carvalho, que, a partir de 1952, transformou seu ateliê em Salvador em um centro de arte e de formação de artesãs. Seu reconhecimento artístico, marcado por participações importantes em exposições, e obras como o mural "Festas Regionais" concebido para o Hotel da Bahia (1950-1951) - um ícone do nosso modernismo. Temas como festas regionais, paisagens, folclore e cenas urbanas, com tonalidades intensas, consolidaram Genaro como um dos expoentes da primeira geração de artistas modernos da Bahia.

    "Genaro de Carvalho é considerado o precursor da tapeçaria artística brasileira. Ele nacionalizou as técnicas francesas de acordo com nossas tradições artesanais e com o talento de suas bordadeiras. A maior parte de suas peças era bordada na ponta da agulha", afirma Graça Bueno, diretora da Galeria Passado Composto Século XX e uma das principais responsáveis, no país, pelo resgate e pela valorização da tapeçaria artística.

    Em São Paulo, o Atelier Douchez-Nicola foi fundado pelo francês Jacques Douchez e pelo paulistano Norberto Nicola. Ambos artistas discípulos do Ateliê Abstração, de Samson Flexor, exploraram novas texturas, relevos e tramas. Suas tapeçarias, muitas vezes integradas à arquitetura moderna, contribuíram para inserir o Brasil no circuito internacional da arte têxtil, com participação em bienais e exposições no exterior. O ateliê também foi responsável pela produção de importantes obras para artistas brasileiros, como a peça "Vegetação do Planalto Central", de Roberto Burle Marx, criada para o Palácio Itamaraty, em Brasília, na década de 1960.

    A arquiteta Lina Bo Bardi, por sua vez, incentivou a integração entre artesãos e designers. No Solar do Unhão, em Salvador, ela organizou oficinas que valorizavam técnicas tradicionais como tecelagem e bordado, inserindo-as no contexto do modernismo. Já no Museu de Arte de São Paulo, o MASP, promoveu exposições que colocaram a arte erudita lado a lado do artesanato, dando visibilidade à tapeçaria como linguagem contemporânea.

    Os ateliês assim como as oficinas não apenas criaram obras de impacto visual, mas também redefiniram a noção de design têxtil no Brasil. As tapeçarias, como murais, passaram a integrar projetos arquitetônicos de prestígio, em hotéis, edifícios públicos e residências modernas. Ao explorar cores vibrantes, geometrias ousadas e narrativas brasileiras, tornaram realidade o sonho modernista de uma arte acessível e integrada à vida do país.

    Descubra Mais....